Socorro, não aguento mais SP!

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Um ótimo texto que, apesar de ela estar se mudando para um local ainda no estado, me faz pensar em todos os motivos que me fazem desejar mudar para outro país (eu sou bem mais radical que ela, sem dúvida...rs)

Do blog Gaiatos e Gaianos - Planeta Sustentável
Por Giuliana Capello




"A casa na ecovila Clareando está em construção e, enquanto não fica pronta, minha morada durante a semana é a metrópole, com todos os seus problemas... Moro em São Paulo desde 1996, quando entrei na faculdade e me mudei para cá. Mas passei a infância e a adolescência em Itatiba, a 80 km da capital. A bicicleta era meu principal meio de transporte, eu conhecia os vizinhos, respirava ar puro, não enfrentava congestionamentos nem metrô lotado. Também quase não ia ao cinema (porque o único da cidade só passava filme do Didi, da Xuxa e do Schwarzenegger. Ninguém merece). Teatro não tinha. O lazer era a piscina do clube, os treinos no time de vôlei da cidade, as brincadeiras na rua e a pizzaria na praça do centro.

Quando me mudei para São Paulo, sofri horrores. O que já era natural ou “normal” para muita gente, para mim era um martírio. Eu não entendia como alguém podia entrar num elevador e não cumprimentar a pessoa ao lado, ou dividir o banco do ônibus como se o outro fosse uma estátua. Ingenuidade do interior? Talvez, diria algum urbanóide.

Com o tempo, fui descobrindo os lugares bacanas da cidade, os amigos, as rotas alternativas. Depois de morar em inúmeros locais (república de estudantes, pensionato de freiras, apê de amigas, casa do tio solteiro etc.), chegou a hora (tem hora para isso?) de casar. Primeiro, fomos morar numa casa alugada. Costumo brincar que foi uma espécie de test drive. Depois, compramos um sobradinho de vila, perto do parque da Aclimação. Lugar gostoso, cheio de pequenos comércios familiares, com área verde, vizinhos gentis e uma amoreira na porta de casa (que já rendeu potes e mais potes de geléia).

No pequeno quintal, plantamos ervas aromáticas e medicinais, temperos, maracujá, abóbora, chuchu. Criamos um pedacinho de verde e um clima de interior. Um sossego. Os amigos chegavam e sempre diziam: “aqui nem parece São Paulo”. Mas a tranquilidade esbarrou na falta de planejamento da cidade. No tão comemorado boom imobiliário, que fez brotar de antigos casarões do bairro prédios enormes e condomínios gigantes, quase que da noite para o dia. Infelizmente, não escapamos disso.

Bem ao lado da minha vila, uma construtora comprou umas oito casas (que também formavam uma vilinha) e começou a levantar um prédio de 25 andares. Acabou o nosso sossego. As maritacas foram embora, junto com o silêncio das manhãs. Minha horta foi destruída pelos resíduos de cimento e areia que caem aos montes (até hoje) no meu quintal. Meu muro sofreu rachaduras, várias telhas foram quebradas, os carros da vila vivem sujos de resíduos de construção e a minha paciência de praticante de yoga chegou ao fim. Era hora de exigir o mínimo de respeito.

Fui conversar com a engenheira responsável e sabe o que ouvi dela? Que eu precisava ser mais tolerante. Mais?!?! E sabe o que é mais irônico nisso tudo? O nome da construtora: Diálogo. Para minha surpresa, o prédio também não deixou recuos decentes. Entre o beiral do meu telhado e o muro do prédio não há mais do que 50 cm! Um absurdo! Mas o absurdo maior é que a obra chegou a ser embargada pela prefeitura, mas depois foi autorizada a seguir adiante. Eu e os demais vizinhos fizemos de tudo para saber se a obra estava mesmo dentro da lei, e se era possível alterar o projeto para não prejudicar tanto as nossas casas.

Que nada. Nessa hora, infelizmente, ganha quem tem mais poder econômico. Ganham os grandes, quase sempre. Foi um inferno conviver com a obra – e ainda é, porque a coisa não terminou. Meu quintal está parecendo uma gaiola, com um aramado “protegendo” contra os resíduos da obra. Toda semana retiro do quintal mais ou menos 2 kg de sujeira. Um total absurdo.

E sabe por quê? Porque a cidade que “não para de crescer” não tem qualquer planejamento ou estudo prévio para prever os reflexos que um empreendimento pode causar num bairro. O Plano Diretor não sai do papel. O direito de vizinhança, já tão bem resolvido fora do Brasil, aqui não vale nada. Não é sequer conhecido pela população e pelas “autoridades”.

Como é que pode?!?! Perdi o sol das manhãs, minha casa ficou mais escura e fria, meu horizonte da janela não existe mais. E eu simplesmente não posso fazer nada para mudar a situação. Aliás, posso sim: fugir, mudar de endereço, como já estava nos planos antes mesmo da obra começar. Mas e quem não pode? E quem não tem a perspectiva de mudar de casa, de bairro, de cidade? Como fica? Fica como aguentar, como puder suportar? Vamos seguindo a vida anestesiados, tentando digerir as adversidades e pensar que é assim mesmo que o mundo funciona? Esse é o grande problema das cidades que crescem além da escala humana, além de qualquer limite que possa garantir um lugar decente e um ambiente saudável para todos.

Hoje em dia, quando um paulistano ou paulistana me questiona por que vou sair de São Paulo, imediatamente me vem à cabeça: e você ainda me pergunta?!? Sei que a ecovila não será um paraíso na terra, mas, como lá nós temos um planejamento de lotes e zoneamento da terra, também sei que posso dormir tranquila, sabendo que ninguém nunca poderá tirar de mim o sol e o horizonte (tal como aparece na foto que fiz recentemente).

Se você mora numa cidade grande, não deixe de buscar seus direitos. Só assim, um dia, quem sabe, o ambiente urbano poderá se tornar um lugar melhor para se viver - e não apenas sobreviver."

2 comentários:

Pop♥ disse...

olha você está certa nimguem merece eu não sei muito como e passar por isso pois eu moro em araxá minas gerais eu não gosto muito das capitais,eu não conheço são paulo mais conheço rio de janeiro,belo horizonte e goiania minha mãe sempre fala que quando meu pai aponsentar ela vai mudar para a menor cidade de minas...e eu acho que ela ta certissima pois quem e aposentado precisa de descanço pois trabalhou a vida inteira

Serena disse...

Pior que isso infelizmente faz parte do processo! Do lado da minha casa também cosnturiram uma casa enorme, de 3 andares e que tirou todo o sol da minha casa (exceto na lavanderia). Mas o que a gente pode fazer? O mundo sempre vai estar dividido. Mas concordo que cada um tem que procurar o que é melhor pra si =D

O que vai me fazer ir embora não é esse motivo, mas motivos pra mim mto mais relevantes como violência, qualidade de vida e politica.

Bjus!

 
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